Fundação: uma história com meu avô

20 Junho 2022

Semana passada estive fazendo uma apresentação dos workshops Relações Simplificadas para um novo cliente. Enfrentando mais uma vez o nada fácil desafio de explicar o que é exatamente um workshop que trabalha as “relações” usando a linguagem do palhaço e da psicanálise, surgiu em minha cabeça uma palavra: fundação.

Expliquei para o cliente que nosso trabalho é como a fundação de uma casa, aquilo que é colocado antes da construção subir, que precisa ser muito bem feito para sustentar o que virá depois. Segui na metáfora: uma fundação mal feita compromete a estabilidade, a estrutura da casa e, por consequência a harmonia, o bem viver das pessoas que nela moram.

Comentei que, em muitos casos, as empresas fazem treinamentos para a parte da “casa”, sem que ela tenha essa fundação. As equipes participam de workshops, processos, treinamentos em diversos temas mas não possuem o básico, que é saber trabalhar bem juntas. O “day out”, é um sucesso, mas quando chegam no “day in”, não conseguem aplicar o conhecimento, por causa dos inúmeros entraves de relação – disputas internas, falta de clareza, dificuldade em se comunicar, desencontros de todos os tipos.

Fiquei feliz por ter achado essa maneira de falar do trabalho, pareceu-me clara e muito precisa quanto ao serviço que fazemos. Mas foi só à noite, quando coloquei a cabeça no travesseiro, que me dei conta: meu avô Paulo fazia fundações de casas. Fiquei tão, mas tão, mas tão emocionada com o que para mim é algo “idêntico”...

Meu avô Paulo Lorena, com 28 anos

Eu gostava demais do meu avô, e encontrar esse laço me deixou muito feliz. Eu pensei comigo: como foi possível não ter percebido na hora em que usei o exemplo? E depois pensei também: é lógico que essa imagem tinha que vir na minha cabeça, eu cresci com essa ideia. Ele era engenheiro, construiu uma grande empresa a partir da noção de que a fundação era a coisa mais importante de uma obra. Quando meu pai foi construir nossa casa, lá estava meu avô, inspecionando a fundação – e, para falar a verdade, só aí eu entendi do que se tratava, pois nunca tinha visto uma.

Então mais uma vez pensei na metáfora: a fundação é escondida. Quase ninguém sabe que existe, sequer acompanha essa fase. Ela é “tudo”, mas depois que a obra fica pronta, vira um "nada"; escondida, mas cumprindo seu papel de sustentar toda a estrutura acima dela.

Assim é também com esse trabalho de base, que é fundamental, mas que não chama a atenção, não tem o glamour de fazer um novo treinamento no assunto da moda. É mais difícil justificar o investimento, sempre há menos tempo para cuidar dessa parte. Mas isso está mudando com muita rapidez, e sou testemunha do esforço de muitas equipes em voltar-se para esse cuidado com a fundação do seu fazer.

Fica aqui registrada esta história para agradecer e honrar minhas raízes, para celebrar a ancestralidade que me define e para homenagear esse avô, Paulo Lorena, que, com certeza, incutiu em mim a paixão pela profundidade, pela base, pela raiz, dando valor ao invisível que nos sustenta.


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