Parece que temos uma “atração natural” para querer as coisas fáceis, principalmente as soluções para os nossos problemas!
Fórmulas milagrosas, "resolva sua vida em 10 sessões" – ou até em três, ou em uma!
Às vezes, até percebemos que o fácil de hoje será a dificuldade de amanhã, mas fingimos que não vemos, sonhamos que vai dar certo, às vezes até fazemos uma escolha fácil e depois vemos que foi besteira e nos arrependemos...
Além da incompatibilidade entre o que é fácil de verdade e aquilo que gostaríamos que fosse fácil. Por exemplo: todo mundo gostaria que fosse fácil emagrecer. Mas fácil mesmo é comer batata frita.
Todo mundo gostaria que fosse fácil ganhar dinheiro. Mas fácil mesmo é gastar dinheiro!
Todo mundo gostaria que fosse fácil trabalhar! Mas fácil mesmo é passar a tarde assistindo televisão, deixando o trabalho pra mais tarde...
Todo mundo gostaria que fosse fácil resolver as questões com as pessoas, mas fácil mesmo é botar a culpa nos outros.
Quer dizer, existe o fácil que gostaríamos, mas ele fica a quilômetros de distância do fácil que experimentamos todos os dias!
Será que Freud explica?
Sim!
Existe um princípio do funcionamento mental que ele chamou de Processo Primário. Esse processo diz respeito à forma de funcionamento do Inconsciente, mas também nos ajuda a entender o porquê do interesse geral pelo fácil.
É uma questão econômica. O sistema psíquico busca a satisfação pelos caminhos mais curtos, mais fáceis, ou, mais econômicos.
O Processo Primário diz respeito ao imediatismo. Neste tipo de funcionamento, ignoramos as consequências das nossas escolhas. Buscamos a satisfação a todo custo. É o momento, por exemplo, em que o bebê alucina que está mamando...
O conhecido é mais fácil, familiar.
Imagine que você derrame água e ela escorra pela areia formando sulcos. O Processo Primário equivale a outro momento em que você derrama a água na areia e ela escorre pelos mesmos caminhos que já haviam se formado na primeira vez em que foi derramada.
Bem diferente dos Processos Psíquicos Secundários, que ocorrem a partir do nosso contato com uma realidade que não cede às nossas alucinações e nos obriga a sair da zona de conforto. Este é o nosso processo de abertura para o mundo.
Neste caminho, desenvolvemos faculdades mentais poderosíssimas, como a atenção, vigília, juízo, raciocínio e a capacidade de executarmos ações controladas. O Processo Secundário seria a capacidade de criarmos novos caminhos para a água que vamos derramar na areia, para que ela escorra por lugares melhores.
É neste processo que nós desenvolvemos o nosso Eu. Mas esse não é o caminho do fácil!
Todo mundo sabe que o caminho da zona de conforto tende a produzir menos resultados e amadurecimento do que o caminho da inovação, ainda mais nos dias de hoje.
Como naquela história do palhaço que rezava pra Deus: "Senhor, dai-me paciência, mas dai-me paciência, agora!"
Interessante, não é? Queremos melhorar nossa vida, mas queremos que ela melhore agora, já!
Não é porque existe uma tendência a querermos o fácil que ele é sempre o melhor caminho. Às vezes, para crescermos, precisamos fazer algo diferente.
E sermos capazes de reconhecer, de fazer uma distinção importante: reconhecer quando o fácil é merecido. Sabe quando a vida te traz um presente, ou você conquista algo e isso facilita a sua vida? Você merece facilidades e não há problema nenhum nisso.
Mas também precisamos reconhecer quando fazemos uso do que é fácil para ficar no mesmo lugar, na mesma situação. Quando perdemos a oportunidade de descobrir as capacidades que temos de lidar com a alteridade, com o novo, com o diferente, que muitas vezes nós nem sabemos que temos.
O fácil é simplesmente uma questão econômica, não uma questão evolutiva.
Mas sabemos que é fácil falar... Sabemos que às vezes é difícil aceitar as dificuldades como parte da realidade. Mas não tem jeito, precisamos aceitar. O que não significa parar nas dificuldades; não é um aceitar e abaixar a cabeça, desistir ou se entregar. Mas justamente aceitar para poder agir sobre essas dificuldades, sobre a realidade, da melhor maneira possível.
Isso sim, facilita as coisas!
Os processos Secundários falam de uma capacidade de lidarmos com o nosso mundo interno e conseguirmos acomodar as suas tensões, angústias, ansiedades… e também de dar vazão a esses sentimentos de maneiras que se tornem sempre mais e mais saudáveis.
Acompanhe nosso canal no YouTube para refletir conosco sobre as diferentes maneiras de cuidarmos no nosso mundo interno e sofisticarmos nossos processos psíquicos.
E se você quiser assistir o episódio sobre O Fácil, clique no link abaixo.