O “desencontro” é uma das queixas centrais quando o assunto é relação.
Embora a ideia mais imediata de desencontro é aquela em que as pessoas não estão no mesmo lugar e ao mesmo tempo, como quando alguém se perde ou atrasa, desencontro é algo que pode ser pensado de muitas outras maneiras: existem os desencontros de ideias, de desejos e de expectativas; os desencontros de intenção e de presença, de escuta e de disponibilidade; os desencontros de visão de mundo...
E parece que, nos dias de hoje, os desencontros têm ficado cada vez mais frequentes. Para piorar a situação, vivemos idealizando os nossos encontros, e quanto mais idealizamos mais nos frustramos.
Idealizou, se frustrou!
Quando falamos de idealizar o encontro, estamos falando de algo que não é uma exclusividade do nosso tempo. Os gregos já passavam por esse mesmo problema de idealizar o encontro, ainda que à maneira deles, através dos mitos e das lendas.
Pois não deixa de ser uma idealização de um encontro perfeito a lenda da criatura homem-mulher, ou andrógino, contada por Aristófanes, no Banquete de Platão.
Ele conta que no início dos tempos havia uma terceira forma humana, constituída pelo conjunto da forma masculina e da forma feminina. Essa criatura possuía quatro braços, quatro pernas e duas cabeças, além dos dois sexos, é claro. Segundo a lenda, essas criaturas eram dotadas de força e inteligência extraordinárias e de um sentimento tão elevado que chegaram a conspirar contra os deuses. Enfurecido, Zeus resolveu puni-las cortando-as ao meio e reduzindo as suas capacidades. Como consequência, o ser-humano estaria fadado a vagar pelo mundo em busca de encontrar a sua metade perdida… e o abraço e o ato sexual seriam os comportamentos que expressariam esse desejo de restituição de uma unidade perdida.
É claro que isso é só uma lenda. Mas ela retrata bem essa impossibilidade do encontro ideal, e fala da importância de lidarmos com frustração em nossa busca pelo encontro perfeito.
Os encontros são sempre parciais
Além disso, o mito serve para lembrar que mesmo que os encontros aconteçam, eles sempre serão parciais. Quer dizer, essa idealização de um encontro perfeito, que nos satisfaz pra sempre, não existe. Por isso, idealizar um encontro perfeito é um equívoco, embora sigamos idealizando os nossos encontros, tanto na vida pessoal, quanto na vida profissional.
A coisa mais importante é desconstruir a idealização, lembrar que desencontros acontecem e que os encontros são sempre parciais, ou seja, termos a consciência de que os encontros são imperfeitos. Se conseguimos fazer essa desconstrução, ganhamos mais tolerância para as frustrações inerentes a qualquer relação.
E se diminui a frustração, conseguimos tolerar melhor os momentos de desarmonia; e se temos mais paciência com o outro, significa que já estaremos cuidando melhor das relações e dos encontros.
Idealizações, expectativas, projeções que nos colocamos, acabam fazendo com que a sensação de desencontro fique até maior.
Então tem uma coisa muito simples que podemos fazer pra viver melhor os nossos encontros e os nossos desencontros é entender que eles são parte dessa vida.
Em outras palavras, é para que possamos lidar com as relações do ponto de vista da realidade das relações e não de um mito interno ou de uma idealização, de uma fantasia: o desencontro é intrínseco.
Então, como lidar com o desencontro? Como lidar com a frustração que é gerada por ele? Como fazer?
Além de aceitar que isso acontece, preparamos uma lista de seis dicas práticas para você favorecer o acontecimento de bons encontros:
Esperamos que essas dicas ajude os seus desencontros a ficarem mais simples e mais leves. E também, que seus encontros se tornem mais agradáveis e proveitosos.
Você também pode assistir ao vídeo:
(Texto inspirado no vídeo “Desencontros”, disponível no nosso canal do YouTube: www.YouTube.com/RelaçõesSimplificadas)