4 dicas para lidar com o “Corona-Office”

20 Junho 2022

Estávamos trabalhando e levando as nossas vidas normalmente quando, de modo impensável, chegou o coronavírus. E com ele também a quarentena, o isolamento.

Aqueles que possuem a opção de trabalhar em casa viram-se em uma situação completamente nova. Uma situação que esbarra em questões muito práticas:

A primeira delas é que, em grande parte, não houve preparação para o home-office.

Quase literalmente do dia para a noite, muitas pessoas começaram a trabalhar em casa sem adaptar a rotina e sem treinamento para operar nesse modelo de trabalho.

De repente, múltiplas tecnologias, com as quais tínhamos pouca ou nenhuma experiência previamente, tiveram de ser integradas ao nosso dia-a-dia. E a eficiência agora depende também da intimidade de cada um com a tecnologia. Não apenas em relação à instalação, à familiaridade com os aparelhos. Agora, precisamos ir além das funcionalidades básicas das ferramentas e tudo isso exigiria treinamento. Então, home-office não é uma atividade que fazemos simplesmente ficando em casa. É preciso preparo, treinamento e investimento.

E esta é uma segunda questão: o investimento que esse trabalho exige em termos de infraestrutura: telefone, internet boa, rápida, computador bom, impressora, papel, eletricidade, mesas e cadeiras adequadas, iluminação ideal, etc. Nem todo mundo possui todos estes equipamentos e materiais em casa. Muitas vezes são deixados no escritório.

Em terceiro lugar, além do uso de novas tecnologias, há outra situação muito difícil que o home-office em quarentena nos impõe: ele sobrecarrega o nosso sistema psicossensório. O cansaço que sentimos ao o dia fazendo reuniões em videoconferência, sem nenhuma interação presencial, é grande.

Quando estamos no escritório, há interação: caminhar até a mesa de um colega, ir até o café, ver o que outras pessoas estão fazendo, as reuniões que estão acontecendo, ler uma comunicação da empresa. Mesmo focados no ambiente profissional, temos interações diversas, e conseguimos alguma distração ao trabalhar.

Com a comunicação acontecendo basicamente através da tecnologia, interagimos com uma telinha o dia inteiro, investindo toda nossa energia e focando toda a atenção em um ponto só. Trabalhar assim provoca mais cansaço e mais estresse.

Além disso, a comunicação mediada por uma tecnologia tende a ser mais fragmentada. Passar um dia inteiro em reunião por teleconferência é extremamente exaustivo. Um começa a falar, corta o som do outro; alguém deixa o microfone aberto e fica gerando interferência no som; a conexão trava e perde-se metade da fala de alguém, e muitos outros percalços. Fica para nós um sentimento de confusão.

Porém, a sensação de confusão que sentimos nessas situações não pode ser explicada só pela dependência das tecnologias quando se fala de trabalhar no que seria melhor chamado de corona-office, ao invés de home-office.

Podemos incluir outras questões como não ter uma estrutura por trás, que é comum em situações de home-office: uma ou várias pessoas que dão conta da limpeza da casa, do preparo das refeições. Ou mesmo um restaurante perto para almoçar. Tudo o que não temos agora.

No corona-office somos cozinheiros, faxineiros, copeiros, técnicos de TI, e assim por diante. Sem contar as crianças, que também estão em casa e merecem, precisam e dependem de atenção dos pais. Elas também estão em sofrimento por conta do confinamento e os pais e mães que estão em home-office ficam muito divididos entre dar atenção aos filhos e trabalhar.

A cobrança, a culpa e o desejo de estar com os filhos, muitas vezes não podendo por conta de uma entrega ou de uma reunião, provocam uma pressão emocional extremamente desgastante.

Fica aquela sensação de que não conseguimos ser os profissionais que deveríamos ser, nem as mães, os pais que gostaríamos de ser. As pessoas estão sofrendo por causa disso e a solução para esse problema talvez passe por uma revisão do que se espera do home-office, para uma adaptação mais realista para o corona-office.

Por fim, é preciso, justamente, administrar e lidar com as questões emocionais que a época atual provoca. O fato de sermos forçados a fazer o corona-office já demonstra que o cenário não vai bem. Existe em todos um medo de perder o emprego, ter o salário reduzido e não conseguir pagar as contas, ficar doente ou ter alguém na família infectado.

São muitas dúvidas e incertezas e isso afeta as pessoas. Essa é uma realidade do home-office em tempos de coronavírus e não podemos virar as costas para a necessidade de cuidar do lado emocional dos trabalhadores.

Ou senão, quando retornarmos, estará todo mundo em burnout e aí sim vamos ver o que é não conseguir produzir. Essa é uma questão importante para todos: funcionários e gestores.

Talvez valha à pena aceitar certas coisas e investir a longo prazo: prepararmos-nos, prepararmos as pessoas para voltarem com gás total quando tudo isso passar. Para isso, precisamos encarar três notícias que não são muito fáceis:

A primeira é que haverá queda na produtividade, pelo menos neste período de adaptação. Gestores e equipes vão precisar aceitar sem se acomodarem nisso. É preciso tolerar aqueles dias em que sentimos que nossa produção não está no nível que gostaríamos, ou que estamos acostumados a produzir, e conversar sobre isso com os gestores e pares.

Os gestores, por sua vez, precisam ajudar as pessoas a encontrarem recursos internos e infraestrutura para irem melhorando a sua capacidade produtiva.

Segunda notícia: nem todos irão se adaptar da mesma maneira. Alguns irão se adaptar muito rapidamente, outros mais lentamente. Precisamos também pensar que muitos outros nunca irão se adaptar tão bem ao trabalho em casa a ponto de performar da mesma maneira que no escritório.

E terceira: se não entendermos essas diferenças de tempo de adaptação; se não conseguirmos ajudar as equipes a terem uma infraestrutura mínima; se não revisarmos as metas e, sobretudo, se não dermos suporte emocional profissional para as pessoas terem o mínimo de organização psíquica para trabalhar, certamente iremos nos frustrar, provavelmente levando muita gente à burnout antes mesmo da quarentena acabar.

Portanto, tomamos a palavra tolerância como essencial para lidar com este momento.

Agora daremos algumas dicas específicas para ajudar você a lidar com as questões do corona-office:

Desenvolva novos ritos de passagem. Se você viu vídeos ou leu algum artigo sobre home-office, deve ter visto a dica de tirar o pijama e se arrumar para ir trabalhar. Isso é mesmo fundamental. Você pode ter pensado que isso afeta só a estética do trabalho, que pode ser só um detalhe, ou que vai te dar mais trabalho e menos conforto. Existe uma explicação psíquica para isso, que caracteriza estas ações como ritos de passagem. Um rito de passagem coloca o nosso sistema psíquico em prontidão, ele nos desloca de um momento, de uma atividade para outra, de um jeito mais fácil.

No nosso dia-a-dia, ficamos tão saturados pela rotina que não conseguimos nos dar conta de quantos ritos de passagem fazemos. Acordamos, arrumamo-nos para ir pro trabalho, deslocamo-nos; chegamos no trabalho, damos bom dia para as pessoas, tomamos um cafezinho, ligamos o computador: rito de passagem completo.

No meio do dia, encontramos os colegas de trabalho para irmos almoçar, saímos conversando, almoçamos, voltamos pro escritório: rito de passagem.

No fim do dia, existem todos os procedimentos de desligamento do trabalho e volta pra casa que você realiza. Estes também obedecem a uma ritualística marcada, sobretudo, pela mudança de settings.

Setting é uma palavra em inglês para cenário, moldura. O setting nos dá um contorno, ele delimita no bom sentido da palavra, ao situar nosso aparelho psíquico.

Em um dia normal, essas mudanças de settings nos ajudam a focar, a produzir, porque elas preparam o nosso mindset para o trabalho, ou para o descanso, aliviando e oxigenando o nosso sistema psíquico.

O mindset, que é o modelo mental, muda sem que percebamos em um dia comum.

Mas, como o confinamento e o trabalho no corona-office, a maioria das pessoas não se dá conta de que precisa de mudança de setting para as coisas funcionarem, quer dizer, precisamos fazer mudança de mindset sem termos sido preparados para isso.

O que nos leva à dica número 2: Crie rotinas, pois isso pode ajudar a criar ritos de passagem. Vale à pena trocar de roupa para trabalhar, arrumar a mesa para o trabalho e, no fim do dia, guardar as coisas de trabalho e desligar os eletrônicos, focar em outras atividades. Tudo isso ajuda na mudança de mindset, tão importante para diminuir a sensação de confusão e pouca produtividade.

A terceira dica é: encontre linhas de fuga. Aquelas pausas importantes em sua rotina. Olhe para uma janela, encontre um horizonte. Busque uma paisagem, dê uma volta pela casa. Pequenas pausas de tempos em tempos são importantes. Entre as atividades que ajudam estão a meditação, que você pode fazer rapidamente (você pode conferir neste link do nosso canal um episódio sobre meditação: ).

Faça ginástica, telefone para algum amigo, pelo menos uma vez ao dia. Jogue vídeo game no intervalo ou até mesmo namore. Tudo isso ajuda a dessaturar das exigências do corona-office.

E, por fim, pratique a tolerância. Primeiro consigo mesmo, mesma, depois com sua equipe. Converse com seus líderes, pares e subordinados e veja quais metas podem ser revistas. Quais as novas projeções do mercado? O seu setor acelerou com a quarentena ou diminuiu de ritmo? Porque, se o ritmo da demanda caiu, talvez seja uma boa estratégia diminuir a cobrança e substituir parte da produtividade por cuidado com a saúde física e mental da equipe.

Se você é gestor, observe se está usando a cobrança de produtividade como uma maneira de lidar com a sua própria ansiedade, com a necessidade de controle de alguma coisa, em um momento em que tudo saiu do controle.

Uma hora tudo isso vai passar e não vai adiantar nada se, quando precisarmos voltar com tudo, estivermos todos em burnout.

A situação atual já é desgastante e estressante naturalmente. Está na hora de minimizar os impactos, de nos cuidar e nos preparar para o retorno. Vamos nos cuidar.

A gente espera que esse texto te ajude a lidar com o seu corona-office. Se você gostou, não se esqueça de dar uma olhada no vídeo que inspirou o post.


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